Igi-Òpe – Mànrìwò—Igi-Àgunlá
- Orlando J. Santos D’Ògún Dímòlòkò
- 2 de abr. de 2016
- 4 min de leitura

O dendezeiro é encontrado desde o Senegal até Angola.
Trazido para o Brasil no século XVII, adaptou-se bem ao clima tropical úmido do litoral da Bahia.
A palmeira do dendezeiro chega a 15 m de altura. Seus frutos são de cor alaranjada, e a semente ocupa totalmente o fruto, do qual se extrai o principal produto —comercialmente falando —, o azeite de dendê.
O dendezeiro produz mais 10 vezes mais óleo que a soja, 4vezes mais que o amendoim e 2 vezes mais que o coco.
Da noz é extraído um subproduto usado na fabricação de cosméticos e de chocolates.
O azeite de dendê é livre de colesterol ruim e, por suportar altas temperaturas, é usado em motores de aviões. Hoje, no Brasil, é plantado em larga escala para a produção de biodiesel.
A palmeira do dendezeiro é conhecida pelos Yorùbá(s) por igi-òpe.
Mas, em termos culturais, referem-se a ela como Igi-Àgunlá — uma expressão usada para descrever sua importância no culto tradicional, social e econômico, pelo fato de fornecer:
— O emu, vinho de palma, usado principalmente em comemorações da Tradição;
— O epo, azeite de dendê, é usado na culinária comum, e principalmente na culinária dos Òrísà(s) por ser considerado um elemento apaziguador;
— A mànrìwò – folha tenra da palmeira, é usada em roupas “isolante da força caótica” de Ògún, Egúngun e Òsányìn. Além disso, desfiado e posto na soleira da porta do Ilé Àse, significa dizer que aquilo que está do outro lado é Sagrado – é um recado para os invasores físicos e espirituais. Além disso, é com as nervuras do mànrìwò desfiado para Ògún que se faz o Sàsàrà de Obàlúwàiyé porque passam a representar os Egúns, mortos;
— Por ser uma folha que concentra grande quantidade de ferro, beber o suco da folha tenra da palmeira (mànrìwò), cura anemia;
— As fibras da palmeira são usadas em artes e/ou artesanatos;
— Depois de extraído o óleo, as fibras retiradas das sementes são usadas, para atear fogo, em fogões a lenha;
— A folha é usada em construções de casas;
— As sementes com 4 orifícios – Ikin(s) –, são usadas pelos Bàbálawo(s) para proceder divinações;
— As sementes comuns são usadas pelos ferreiros, para atear o fogo, de suas forjas;
— As cinzas resultantes do fogo do ferreiro são usadas para fazer: sabão-da-costa, tinturas para tecidos e estatuetas, magia de proteção e, em especial, uma magia que, em nome de Ògún, pode matar;
— Das nozes é extraído um óleo chamado de àdí, usado em magias negativas (feitiços), na fabricação de cosméticos e de chocolates.
Uma Orin (cântico antigo) nos lembram:
Ogege
Igi-Àgunlá
Ogege o
Igi-Àgunlá.
E n’igún ogege o.
Igi ni olà L’Ògún o.
O frescor e o verde da palmeira;
Que árvore não se importa com nada – simplesmente, cresce;
Que ela vive como o abutre, no frescor;
Que é a árvore da fortuna de Ògún.
A mànrìwò, folha tenra da palmeira, tem a conotação de uma espada, e, por conter ferro — elemento de Ògún, é usada nos rituais para representar a sua arma; é usada como roupa de Ògún porque isola a força caótica do Òrísà; é usada como roupa de Òsányìn porque é remédio; é usada como roupa de Egúngun porque cobre o corpo do Òje e não o deixa passar vergonha.
Dessa maneira, rasgando uma mànrìwò diante de Ògún, sabendo o seu significado, é como usar um facão para limpar o caminho.
Quando fazemos saudações aos Primórdios do Tempo, dizemos:
Ìbà Àkodá to dá tie lorí ewé.
Ìbà Àsedá to dá tie lorí òpe.
Àkodá é o Início da Criação. É Obàtálá, o Criador do Homem.
A citação nos faz lembrar que ele criou o homem em cima de folhas tenra da palmeira do dendezeiro.
Àsedá é o Início da Lei. A citação serve para nos lembrar sobre a importância daquele Ser Criado por Obàtálá. Percebemos claramente que o primeiro Ser a ficar de pé em cima desse mundo foi Egúngun. Egúngun é a própria mànrìwò — instabilidade. Ògún é o primeiro Ser humano que aparece para nos garantir a estabilidade, porque Ògún é feito da combinação de mànrìwò e estrutura humana – Egún, osso. Enquanto que a estabilidade não fala, a instabilidade, por ter movimentos, fala.
Mànrìwò, cuja essência é composta de ferro, vem da Terra, alcança o Ar, junta-se a Água que tem origem no Fogo. É uma folha que conta a história da humanidade e pode abrir o caminho de qualquer pessoa que saiba usá-la. Essa é a folha que conhece a história do nascimento do Homem na Terra.
Desse modo, não é possível praticar o Culto de Òrísà sem fazer referência ao dia da Criação do Homem.
No dia em que Orúnmìlà sentiu-se envergonhado com a própria nudez, abrigou-se em um buraco. Egúngun veio do Céu e fez-lhe uma casa cercada e coberta com folhas da palmeira e uma roupa de mànrìwò. Nesse dia, Orúnmìlà admitiu que Egúngun era mais sabido do que ele.
Dessa maneira, por sustentar a Tradição do Povo de Òrísà é que Igi-òpe se tornou uma Igi-Àgunlá — Árvore Sagrada.
Orlando J. Santos D’Ògún Dímòlòkò
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